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Do Asilo das Vovós Reumáticas
Agora com essa vida pós-cirúrgica, me tornei uma velha gorda e ranzinza verdadeiramente, e me dedico exclusivamente a atividades que evitem a fadiga. Passo os dias a assistir tv, comendo e dormindo em meio a 572 almofadas, que nem o paxá Sahid. Já até mandei avisar às crianças do prédio que terei prazer em furar as bolas que cairem na minha sacada. Uma das poucas vezes que saí de casa nesse período foi para, claro, fazer programa de velho: ir ao cinema. Realmente emocionante a minha marcha lenta e graciosa de 10cm por segundo até chegar à sala escura. Sem contar as sensacionais partidas de dominó. O próximo evento social será tomar chá com outra amiga idosa, devidamente equipada com elegantérrimos brincos de bola e meias kendall cheirando a talco. Aguarde. |
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Velha e Boa
Certas coisas tem intrínsecas uma alta dosagem de simbologia. O sono naquele hospital é recheado de paisagens sem fim, céus irreais, de cores púrpuras e anis. Sento na beirada da cama, impulsionando o corpo a levantar e penso do mundo além da janela que não verei por um bom tempo. Mas existe um certo prazer em perceber que pelo menos em sua esfera particular consegue-se manter o que é considerado uma boa forma de abordagem da vida. Enquanto as pernas não firmam. Enquanto passo os dias a lembrar das gaivotas, dos rochedos e do mar da infância. Por enquanto. |
Arquivos
Christiane, 32 anos. Brasiliense. slamgirl[at]hotmail.com