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Ethanatos

Estudos feitos sobre os primórdios da nossa civilização relacionam o aparecimento da angústia metafísicas do homem ao registro dos sinais do culto aos mortos. Portanto a morte se apresenta desde o início como uma fronteira, o limiar de uma realidade instigante porque inteligível, além de atemorizadora.

Porém, no mundo tribal a morte não é propriamente um problema. Ela não é enfocada do ponto de vista da morte do indivíduo, mas se acha integrada nas práticas coletivas de culto aos mortos, aos ancestrais.

Isso porque o homem primitivo não tinha o centro em si mesmo, o seu ser se faz por meio da participação do coletivo. Para eles, o morto apenas muda de estado e passa a pertencer à comunidade dos mortos, que pode voltar ao mundo dos vivos por meio de aparições em sonhos.

Nas sociedades tradicionais o homem é inserido numa sociedade relacional, onde o indivíduo se encontra inserido numa totalidade mais importante que ele, há uma série de cerimônias e rituais que cercam o evento da morte.

É aí onde acontece o famoso "beber o morto", onde o caixão é colocado na mesa de jantar e diante dele parentes, amigos e desconhecidos celebraram a "passagem", incluindo as crianças, que não são excluídas do ritual. Existe o luto e geralmente o moribundo (antes de morrer, lógico) tem a companhia de amigos e familiares na sua agonia, que é passada em casa.

Hoje em dia os velórios acontecem geralmente nos necrotérios para onde não se levam as crianças. Para falar a verdade, o tema não é discutido com elas, e inventa-se todo tipo de desculpa para não dizer que a pessoa querida se foi. O paciente terminal passa seus ultimos momentos de vida numa cama de hospital, dentro de uma sala fria e conectados a ele estão muitos fios e tubos.

Roberto da Matta (antropólogo brasileiro, muito prazer) lembra do fato dos mortos serem colocados em caixões acolchoados de cetim que lembram uma cama confortável, sem contar que muitas vezes são maquiados também: "O que seria tudo isso, senão um modo radical de livrar-se do morto, transformando-o em alguém que realmente dá a impressão de repousar?"

Para muitos essa é a explicação da morte ser um tabu hoje em dia. Não sei se isso influencia no medo que tenho dela, mas acho que no meu caso outros fatores contribuem para isso. Primeiro que não acredito em deus, e, consequentemente, na existência de uma alma e um céu para onde se vai depois. E a idéia de que a minha consciência simplesmente vai deixar de existir não é a nada agradável. Mas acho que fortalece muito essa fobia também algo que percebi já tem um tempinho: eu tenho uma dificuldade enorme de dizer adeus.

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Christiane, 32 anos. Brasiliense. slamgirl[at]hotmail.com

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