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Escatologias Infames de um Cotidiano Redundantemente Banal

Tentando manter a pose com aquela toalha infame enrolada na cabeça, ela tenta inutilmente parecer interessante o decorrer dos seus dias. E não é que não tivessem sido, mas uma inexplicável paralisia tomava conta de seu cérebro quando tentava fazer isso. "Eu preciso fazer a resenha", ela repetia. Já se passara 3 horas noite adentro e ele ainda dizia a mesma coisa.

Um sorriso cínico era formado pelos seus lábios. O que restava da sua precária dignidade foi pelo ralo quando em meio a tudo isso ouviu uma confissão horrivel, que abalaria todo seu contexto sobre si mesma. Acabara de ser informada que o que fez os sininhos de outrém tocar não foi a sua suposta beleza, inteligência e simpatia. O click fez-se quando ela falou de um desconhecido filme trash, daquele tipo z, que por coincidência era de conhecimento das borboletas habitantes da barriga alheia.

Então ela lembrou de Macabéa, que era como o lodo que nasce no asfalto. "Muitos são como o lodo no asfalto", pensou. E percebeu que as pessoas gostam de ouvir discussões alheias, ver as desgraças dos outros porque isso às faz compreender que não são as únicas desiludidas no mundo, não são as únicas à beira da loucura. "A resenha, tenho que fazer a resenha", repetiu.

Mas mesmo não sendo Macabéa e não sendo o lodo no asfalto ela teve sua hora da estrela. Os dedos se tornaram virtuosos e ela não conseguia parar de bater naquelas teclas. Tic tic tic, faziam as teclas. E tudo fez sentido, e a mente desanuviou. "As violetas não páram de dar flor. Despontam virtuosamente e outros botões vão se formando num ciclo sem fim!". Conseguira quebrar o chumbo envolta o do coração. Não, não estava triste, longe disso. O mundo fervilhava ao seu redor e ela não podia manifestar que vivia isso! Acontece que não conseguia dizer e finalmente disse. Paradoxalmente conseguiu dizer que não conseguia dizer nada.

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Christiane, 32 anos. Brasiliense. slamgirl[at]hotmail.com

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