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Ainda não dou conta de falar da morte do Tomas (sim, na véspera do dia dos pais). Foram dias muito barra pesada. Ainda o são. Estou enlutada e não posso viver essa dor de maneira apropriada por causa do trabalho.
Passo os dias apática, confusa e tentando esconder de mim mesma uma saudade tão esmagadora que me impede de respirar. A verdade é que a falta dele está impregnada nesta casa como o cheiro de carniça que perfume nenhum disfarça.
Levei 1 semana para ter coragem de dormir na nossa cama. Ainda evito este lugar. O silêncio toda vez que abro a porta funciona como um tapa na cara que sei que vou levar por muito tempo ainda. Muita gente me diz para focar nas lembranças felizes. Heh, elas ferem bem mais - agora que ele não está aqui.
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Eu não tinha a menor dúvida de que essa história não ia dar certo. Acho que por isso enrolei este moço durante tantos anos. No fundo eu sabia que, sob uma lente de aumento, eu perceberia que ele é meio babaca e perderia a admiração. Obviamente manter a amizade se tornou impossível. Eu só queria um afternoon delight, minha gente. E ele nunca entenderia a piada, trouxa...
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O sumiço é porque estava trabalhando. E muito. Mas é
estranho como os sonhos nos enganam e as coisas possam se ajeitar se não formos
muito rígidos. Quando estudante de jornalismo, queria cobrir política e
trabalhar no Le Monde Diplomatique. Pois nunca fui tão infeliz como repórter
cobrindo o Congresso.
Ao invés de se mostrar um problema horrível, esta realidade
foi apenas uma porta para o que agora consome o meu tempo e me traz grande
satisfação: dar aulas. E alguma coisa devo estar fazendo certo, já que a primeira
turma para quem lecionei na vida se forma semana que vem e me convidou para ser
homenageada. O fato de eu ter um carinho especial por esses alunos só me deixa
mais orgulhosa e feliz.
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Arquivos
Christiane, 32 anos. Brasiliense. slamgirl[at]hotmail.com