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Aqui também bate um coração
Ontem um moço dormiu aqui em casa. E o moço tem uma bunda boa e é cheiroso minha gente, mas isso não quer dizer nada porque entre eu e o moço não existe a vontade de. Até porque segundo o moço eu sou "a mina de blublublu", embora blublublu nem saiba disso (eu acho). Mas enfim. Então eu perguntei ao moço se o fato de passar a noite expremendo os cravos das costas dele não era bem pior do que consumar a vontade de, que nem a massagem no pé em Pulp Fiction... O fato é que há tempos eu não vivia uma situação assim com cara de fim de infância, passando a madrugada comendo hamburguer, brigando pelo controle remoto da televisão, contando odisséias ridículas de antigos amores infantis e fazendo planos de ir ao Wet'n Wild (é assim, né?). E eu que andava vivendo os ultimos dias que nem um aperitivo, tipo uma Bloomin' Onion do Outback, virei um Strawberry Cheesecake da Häagen-Dazs. :~~~~~ Emoticons, por deus... Tenho medo. |
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Duplipensar sim, mas o que?
Desde que me mudei pra cá que vivo a odisséia da persiana nunca instalada. Eu até poderia contar a história toda, mas não é o caso. O fato é que por causa disso os moradores do prédio defronte podem se divertir vendo a minha patética rotina de comer de pijama na frente da televisão que nem um zumbi. Acontece que isso tem gerado um comportamento um tanto bizarro: de uns tempos pra cá as pessoas andam elas também expondo suas rotinas pela janela, embora elas possuam janelas de vidro jateado e cortinas. Ontem, um moço de braços torneados arrumava uma mala enquanto me via passar roupa e sabia que era visto. Em dado momento, perguntou com gestos se certa bermuda era melhor que outra. Hoje, vejo que no 2° andar há uma cozinha industrial cheia de lindos utensílios de cobre e só posso imaginar as maravilhas que saem daqueles vapores todos. Na janela defronte à minha um moço de barba por fazer fuma um cigarro enquanto digita algo no computador. De vez em quando ele me lança um olhar vazio... Imagino que escreverá por toda a noite. Eu me pergunto se esse novo comportamento é um voyerismo que acabou nutrindo nos outros uma vontade de também ser visto ou se, no fundo, essas pessoas perceberam que há de fato pouco da intimidade que seja constrangedor. Não importa. Na próxima segunda-feira (se os canalhas da persiana não me enrolarem mais uma vez) vai acabar a farra de expiar a minha vida ordinária e isso não fará a menor diferença. |
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Das verdades universais
Ele sentia tesão. O que ela sentia era paixão. Ela não queria esperar por ele. Esperar tesão virar paixão. E assim como começou, num impulso terminou. E tudo está muito bem. Ainda tudo em comum. As mesmas musicas, os mesmos filmes... dele |
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Condessa Olenska
Também dez anos depois, eu tive o meu pôr-do-sol. Mas ambos pegaremos aviões. (Dez sim. Não pergunte) |
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Cogito me cogitare
Dentro de mim mora uma mulata muito gostosa. Ela é pobre, mas feliz porque a sua bunda é perfeita e seus peitinhos, divinos. Ela desfila na Mangueira, e no seu mundo não tem lugar pra dor nem tristeza. Pra ela não existe ontem nem amanhã, só um hoje eterno e ensolarado. Dentro de mim mora um velho judeu polonês que vive amargando um passado doloroso, o seu Moishe. Ele é um chato ranzinza que toma sopa de repolho resmungando às seis da tarde na frente da televisão. Ele odeia deus e a natureza. Não existem mais cores no seu mundo, só diferentes tonalidades de cinza e bege. * Sempre preferi os opostos às coisas simples demais. É por isso que sempre gostei mais de Elinor a Marianne. Enquanto a pobre apaixonada de Razão e Sensibilidade ardia fisicamente em febre por causa de Willoughby, Elinor ardia por dentro, como uma fortaleza, por carregar o amor escondido no fundo da alma. E por isso mesmo é tão forte a descrição do seu choro ao descobrir que Edwards não se casou. São Paulo é, para mim, como Elinor Dashwood. Quem não entender essa dualidade não entende a lógica paulistana. E é por isso que de modo geral não gosto de cariocas, sempre apaixonados demais apenas pelas coisas boas da sua cidade. Sempre dou o mesmo exemplo, mas não canso de me repetir: a realidade cruel e opressora de São Paulo ao invés de anestesiar, causa uma hipersensibilidade. Pelo menos no meu caso. É um círculo incongruente, eu sei, mas que se fecha. Como a fuga do peso que baliza a vida em A Insustentável Leveza do Ser, ou como o rosto de Otto refletido nos olhos de Ana em Os Amantes do Círculo Polar, mas isso já é outra história. O que importa é que em agosto vou para São Paulo, mas dessa vez para ficar. * Texto de Henrique Goldman, cineasta. Com adaptações. |
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Na Avenida Paulista eu ei de te encontrar
Não morri. Estava em São Paulo a cuidar da vida. E sobre esta terra é preciso dizer o seguinte: - Os paulistanos olham mais, mas cantam menos - "Causar" é a gíria mais ridícula de todos os tempos. Bem como os que dela fazem uso - O jeito fanho de falar desse povo só fica bom na boca dos homens - A comida é mais cara. Mas de um tanto estúpido e pantagruélico - Todos os "alternativinhos-cool-só-ouço-roquinho" merecem a morte - Reclamar da humidade relativa em 25% é para os fracos |
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O sono, oh céus... Onde andará?
Então que vou outra vez para além do arco-íris. E vou bater os sapatinhos mas... Será? Sabe, eu sou uma moça suspirante. Não parece, eu sei. Na verdade só alguns poucos moços sabem disso. Eu até chorei em Jerry Maguire, mas... O que estou dizendo? De volta na segunda-feira. Com muito açúcar. Ou não. |
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A cantora gritante
"Cantava tão bem Subiam-lhe oitavas Tantas tão claras Na garganta alva Que toda vizinhança Passou a invejá-la. (As mulheres, eu digo, porque os maridos às pampas excitados de lhe ouvir os trinados, a cada noite em suas gordas consortes enfiavam os bagos). Curvadas, claudicantes De xerecas inchadas Maldizendo a sorte Resolveram calar A cantora gritante. Certa noite... de muita escuridão De lua negra e chuvas Amarraram o jumento Fodão a um toco negro. E pelos gorgomilos Arrastaram também A Garganta Alva Pros baixios do bicho. Petrificado O jumento Fodão Eternizou o nabo Na garganta-tesão... aquela Que cantava tão bem Oitavas tão claras Na garganta alva. Moral da estória: Se o teu canto é bonito, cuida que não seja um grito" Hilda Hilst |
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Explicando coisas óbvias de forma complexa
Às vezes, o caminho é melhor que o destino. Às vezes, o simples fato de começar uma viagem já provoca uma transformação. Às vezes, o bacana é viajar sem destino, parando nos lugares mais agradáveis. Às vezes, é preciso trilhar um caminho único. Às vezes, São Paulo vira uma novela mexicana. |
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Um copo de cólera
Alguém me disse que quando sumo por um longo período é que estou trepando muito. A verdade é que engoli uma espinha de peixe-espada que me rasgou a garganta e não me deixa falar. Estive na Sicília. E na Grécia. Por lá, segui os passos de Mayol. Horas e horas de mergulho e apnéia. Desci no mar fundo como nas imagens de Besson e fui, em camera lenta, até onde permitem a náusea e a vertigem. Terminarei fazendo como ele mesmo fez: perder-se naquela paz e naquele silêncio, deixando Joana ao léo. |
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There is a light that never goes out
E na vontade de não parar, de não me ater, de não pensar, vou a São Paulo. Engraçado que, pensando agora, a paulicéia me parece um grande quadro sumi-ê ou uma verdadeira noite suja. É que ando meio adepta de Derrida, se é que me entendem. Enfim... Gostaria de conhecer algumas pessoas e reencontrar outras. Mantenham contato. E cuidem do quintal. |
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Arquivos
Christiane, 32 anos. Brasiliense. slamgirl[at]hotmail.com